Rui Nunes, ou a pequena história dos gestos
DOI:
https://doi.org/10.31921/microtextualidades.n9a3Resumen
Na literatura portuguesa contemporânea, Rui Nunes (n. 1945) destaca-se pela singularidade inclassificável da sua escrita, na qual a crise da representação do humano, da identidade, do corpo, é levada a uma zona limite que torna indiscerníveis, porque mutuamente implicados, uma radical crise genológica e as fragilidades físicas do próprio autor: uma miopia progressiva leva-o a exacerbar a monstruosidade do pormenor, do descontínuo e do fragmento, em detrimento das “grandes coesões” textuais, orgânicas ou metafísicas. Desfazendo o mundo, dos objectos às personagens, em “escombros” e “ruínas”, o humano é reconduzido ao absurdo da “carne”, esvaziada de qualquer fundamento ontológico. É essa escrita-olhar que está no âmago deste ensaio, articulando-se, para o efeito, com o “momento qualquer” na literatura segundo Jacques Rancière, o poeta Henri Lefebvre, um poema de Rilke e o problema do “corpo paliativo” segundo Byung-Chul Han.
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